adornos

estou morto no meio do quarto
atravessado em diagonal sob a cama
com uma bala na cabeça
a cena é deprimente
estou de meias sociais, cuecas na cor pastel e uma camisa hering justa
mostrando claramente que não recuso doces após as refeições
o whisky está na medida de 1/4, sem rótulo, em contato sutil com o criado mudo
coitado viu tudo sem poder dizer nada
o abajur rodeado de mofo
deixa a cena iluminada
triste e sobrenatural
as gavetas estão abertas
roupas fizeram as malas
e saíram sozinhas pelo hall de entrada
os guardadores de carro, inocentes ou cúmplices, disseram não ter visto nada
impressionante como o espelho da penteadeira adquiriu uma coloração vinho
em diversos tons e formas
se a bebida era outra
1 minuto antes
estou sonhando acordado em delírio
lembrando dos tempos bons do passado
jogando cartas, plantando mudas, dizendo impossibilidades
não importava muito o que eu estava fazendo
porque o meu passatempo era ficar admirando ela
suas formas singulares e sinceras
de desconsertar qualquer tipo de discurso programado
sempre fui muito atento aos adornos, o plus, o que estava em volta
porém não percebi em vida
que o presente estava ali

expresso

tem uma música triste
morando no meu ouvido
barulhenta
e suave
tudo que ela faz eu ouço
faz mudança a toda hora
as notas ficam dançando até tarde
me distraindo
mostrando um caminho ideal
romântico
eu respiro fundo
abro e fecho os olhos
umas poucas vezes
e vejo a realidade se mexendo
alterando a cada segundo
envelhecendo
o tempo
entrou armado na minha cabeça
e tem meu discernimento como refém
as decisões estão ali
em pilhas
na mesa da lucidez
para serem tomadas
como goles de café
porém
as explicações são tímidas
e curiosos como eu sofrem
na mão da possibilidade
quando você foi embora
levou um pedaço de mim
devolve
por favor

insight

existe um lugar
uma situação
não aparente
difícil de perceber
um insight
de prazer
em cada gota de realidade
a melhor parte está escondida
busca
não importa como
o que distrai o julgamento
das coisas em si
e vive de acordo com as oportunidades
porque tudo é relativo e variável
de uma hora pra outra
uma sensação boa vem e te abraça
acredita
no impossível
e não importa se não faz sentido
você é o que não existe
ainda

you seem beautiful to me

talvez
não exista nada absoluto
completo em sua natureza
e querer isso
parece ser uma tentativa ingênua
de fabricar a resposta
criar um caminho mais fácil
que conforte
o interessante da falta de
é o jeito pelo qual nos enganamos
distorcemos a vontade
de modo sutil
com substitutos
de qualquer gênero
só que "estes" não são "aqueles"
este mecanismo
é falso e temporal
um sonho
gosto de ficar
assim te admirando
dizendo coisas com os olhos
pois vejo em ti a minha felicidade
e o que importa é o que você sente
o resto
é especulação