escrevo o que sinto.

Tuesday, August 31, 2004

adornos

estou morto no meio do quarto
atravessado em diagonal sob a cama
com uma bala na cabeça
a cena é deprimente
estou de meias sociais, cuecas na cor pastel e uma camisa hering justa
mostrando claramente que não recuso doces após as refeições
o whisky está na medida de 1/4, sem rótulo, em contato sutil com o criado mudo
coitado viu tudo sem poder dizer nada
o abajur rodeado de mofo
deixa a cena iluminada
triste e sobrenatural
as gavetas estão abertas
roupas fizeram as malas
e saíram sozinhas pelo hall de entrada
os guardadores de carro, inocentes ou cúmplices, disseram não ter visto nada
impressionante como o espelho da penteadeira adquiriu uma coloração vinho
em diversos tons e formas
se a bebida era outra
1 minuto antes
estou sonhando acordado em delírio
lembrando dos tempos bons do passado
jogando cartas, plantando mudas, dizendo impossibilidades
não importava muito o que eu estava fazendo
porque o meu passatempo era ficar admirando ela
suas formas singulares e sinceras
de desconsertar qualquer tipo de discurso programado
sempre fui muito atento aos adornos, o plus, o que estava em volta
porém não percebi em vida
que o presente estava ali

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